Rosto branco, cabelos verdes e um grande sorriso vermelho maléfico. Essas características são marcantes quando pensamos no personagem Coringa, o famoso vilão de Batman.
Porém, no filme dedicado ao personagem, lançado nos cinemas em 2019, outro detalhe chama atenção: em muitas cenas de tristeza, ele lança uma risada intensa e incontrolável, sem ser por maldade.
No longa, o ator Joaquin Phoenix dá vida ao personagem Arthur Fleck, um comediante mal-sucedido que acaba se transformando no criminoso Coringa. Apesar da história ser fictícia, o protagonista sofre de um distúrbio mental real: o afeto pseudobulbar.
O que é o afeto pseudobulbar
Muito pouco conhecido no mundo, o afeto pseudobulbar (ou PBA, em inglês) é uma doença psiquiátrica crônica que resulta em reações emocionais e comportamentais involuntárias, distintas dos sentimentos reais que a pessoa sente.
Em “Coringa”, as cenas apresentam Arthur com um riso distinto de sua risada natural. Isso porque, em momentos de nervosismo ou tristeza, o personagem dispara gargalhadas – o que acontece até mesmo em momentos inconvenientes para si mesmo.
O psicólogo Yuri Busin explica que quem sofre do transtorno não tem controle absoluto sobre as ações. “É uma contradição enorme entre o sentimento real e o que é expressado pelas emoções e pelo corpo”, diz o especialista.
Sintomas do transtorno
O transtorno, que também pode ser chamado de Síndrome Pseudobulbar ou Transtorno da Expressão Involuntária, é caracterizado pelo descontrole e descompensação no ato de rir e/ou chorar, de acordo com a psicóloga Letícia de Oliveira.
Assim, o paciente pode gargalhar em momentos de decepção, tristeza, raiva, nervosismo e angústia; e chorar violentamente nos momentos em que sentir felicidade, prazer e satisfação.
Afeto pseudobulbar x rir de nervoso
É comum conhecermos alguém que ri em situações de ansiedade, empolgação ou angústia. No entanto, o ato de “rir de nervoso” ocorre em momentos raros e não deve ser confundido com o afeto pseudobulbar.
Yuri Busin, especialista em terapia cognitiva comportamental, afirma que o transtorno apresentado em “Coringa” é uma doença crônica, e não algo pontual. É um descontrole repetitivo, que tende a acompanhar o paciente no decorrer da vida.
Diferente de uma risada por nervosismo, Arthur Fleck tenta tapar a boca diante dos sintomas do transtorno e chega até mesmo a engasgar e sofrer com a risada incontrolável.
Causas
O afeto pseudobulbar é originado, principalmente, a partir de lesões ou grandes traumas que afetam regiões cerebrais responsáveis pelas emoções.
Entretanto, casos em que o transtorno não surge devido a acidentes, resultando em danos cerebrais, são bastante raros.
Por isso, é comum que a doença apareça em pessoas que sofreram:
- AVC
- Tumor cerebral
- Traumatismo craniano
- Esclerose múltipla
- Alzheimer
- Parkinson
No filme, que já bateu recorde de audiência, sendo o longa-metragem mais assistido em outubro nos Estados Unidos em toda a história do cinema, a razão dos sintomas de Arthur Fleck é revelada (mas não daremos esse spoiler!).
Diagnóstico
O diagnóstico do transtorno deve ser feito por um médico, de preferência um psiquiatra especializado ou neurologista.
O profissional avaliará o caso do paciente, bem como seu histórico de doenças e acidentes, e pode pedir alguns exames, como exames de sangue, ressonância e demais testes de imagem.
Tem cura?
Por ser uma doença crônica, o afeto pseudobulbar não tem cura. Contudo, tratamentos podem amenizar os sintomas do transtorno e trazer uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
Tratamentos para afeto pseudobulbar
Os principais tratamentos para quem sofre de afeto pseudobulbar incluem terapia e medicamentos controlados. No caso dos remédios, eles só devem ser tomados com prescrição médica, após o diagnóstico.
Já a terapia pode promover maior conforto ao paciente, visando autoconhecimento sobre as situações que podem desencadear os sintomas e como evitá-las. Além disso, poderá ser trabalhada a autoestima e o combate a demais comportamentos, como quadro depressivo e isolamento.
“O trabalho do psicólogo é ajudar o paciente a lidar com esse padrão sem ter que se isolar socialmente”, reforça Letícia, membro da Sociedade Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental.
Complicações possíveis
Dentre as principais complicações que podem surgir devido ao afeto pseudobulbar estão:
- Depressão
- Ansiedade
- Isolamento social
- Fobia social
- Suicídio
Especialista em análise do comportamento, Leticia de Oliveira reitera que a depressão costuma ser a principal consequência do afeto pseudobulbar.
O paciente sofre com o transtorno, porque percebe que seu comportamento é inadequado para a situação vivenciada. “Ele começa a evitar pessoas e lugares por medo das reações alheias”, ressalta.
Como ajudar alguém com afeto pseudobulbar
É comum que outros indivíduos não saibam como lidar com o riso ou choro incontrolável de quem apresenta PBA (afeto pseudobulbar).
Se você conhece alguém que tenha o transtorno, explique à pessoa e a quem convive com ela o que ocorre e porque ocorre. A informação sobre a doença pode evitar constrangimentos a quem convive com ela diariamente.
Incentive-a a procurar ajuda profissional, indo a consultas com psiquiatras, neurologistas e realizando acompanhamento psicológico.
No longa “Coringa”, por exemplo, Arthur mantém um bilhete plastificado em seu bolso, com um pedido de perdão pela risada incontrolável, afirmando que se trata de um distúrbio neurológico. No entanto, muitas vezes, ele sequer consegue controlar minimamente os sintomas e mostrá-lo, sendo julgado por desconhecidos.
Então, evite o julgamento e preconceito com doenças psiquiátricas. Tenha empatia, tente tirar a pessoa da situação que pode ocasionar as ações involuntárias. Se não for possível, busque acalmá-la – e tome cuidado para não parecer agressivo, tanto em suas atitudes quanto em suas palavras.
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Fonte: Minha Vida
Uma resposta
Nossa, muito interessante!
Parabéns pelo post, adorei!